Por Hiram Reis e Silva – Jutaí (15/dez/2008)
- Retrospectiva
Hoje completamos duas semanas de descida do Rio Solimões. Sonhos desfeitos, inocência perdida, muitas observações, mitos desfeitos, ratificação de conceitos, retificação de rumos. Um crescimento como ser humano. A ternura e a alma hospitaleira do homem do Norte nos enchem de humanidade. O amor para com o semelhante invade, penetra cada poro, cada capilar. O carinho com que nos recebem nos mostra o quanto somos egoístas no nosso dia a dia. São mestres da harmonia e nos ensinam, capítulo a capítulo, a cordialidade e o desprendimento.
- Lendas e Mitos
As muitas lendas, cujas narrativas pacientemente ouvimos e constatamos serem plágios de outras plagas, outras gentes, outras eras, são contagiantes em suas minúcias. A maioria possui um elo comum, o evangelizador, que as trouxe em sua bagagem e as disseminou. Lendas que foram adaptadas à realidade amazônica, mas que pouco ou nada têm a ver com os povos da floresta. Outras foram alteradas, buscando prepará-los para aceitar a ‘verdadeira fé’.
Temos o Jurupari, o Moisés tapuio que começou a ‘editar’ leis de interesse exclusivo do clero; lendas exóticas como a de um cavalo-marinho em plena Hyléia ou, ainda, um saci incorporado por indígenas que jamais tinham contatado um afro-americano. Nos dias de hoje, o Mapinguari foi substituído por alienígenas pilotando OVNIS.
- Tradição
A língua dos Cocamas e Caixamas se perdeu no túnel do tempo. O artesanato e o folclore vêm, pouco a pouco, sendo substituídos por modismos ditados pela mídia televisiva presente ostensivamente em todos os lares. As festas tradicionais só são lembradas, em algumas comunidades, através de relatos dos anciãos, e até os sucos naturais foram substituídos pelos refrigerantes industrializados. Caciques reclamam não receber, da FUNAI, artefatos para fabricar seus ‘originais’ artesanatos.
- Miscigenação
A pureza das raças defendida pela alienada FUNAI e ONGs alienígenas vem sofrendo uma salutar, progressiva e inexorável miscigenação. As duas principais lideranças Tikunas de Feijoal e Belém do Solimões trazem o sangue Paraense a fluir em suas veias.
- Nômades
O nomadismo foi substituído por sedentarismo, com o apoio incondicional da FUNAI e ONGs que tratam diretamente da questão indígena. As políticas públicas de melhoria das comunidades, como pavimentação, luz elétrica, tratamento d’água e outras obras de infra-estrutura, eliminam a possibilidade de um retorno ao nomadismo.
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