- Lauri Corso
O Romeu conheceu o gaúcho Lauri, apaixonado pela terra amazônica, funcionário do Ibama que agora faz parte de um grupo que coordena os trabalhos na Reserva extrativista de Jutaí. Jantamos no Restaurante Natureza, o Lauri contou sua experiência de vida e discorremos sobre temas ligados ao seu trabalho. Depois do jantar, fui até sua casa onde me mostrou sua bota de fibra de vidro, ainda em desenvolvimento, para evitar picadas de cobra.
- Largada para o Flutuante do Orlaney
Acordamos às 5h do dia 18 de dezembro, nossos amigos da Polícia Militar nos auxiliaram no carregamento do material dos caiaques. Passamos na casa do Lauri, que tinha prometido documentar nossa saída e nos dirigimos ao Flutuante do Daniel onde aportáramos nossos caiaques. Depois que nos ajudou a carregar a tralha, Lauri resolveu experimentar a navegação nas nossas embarcações. Tiramos algumas fotos e partimos por volta das 6h30min.
- Primeira Parada
Remamos num ritmo forte e cadenciado aproveitando a correnteza superior a 10 Km/h que nos permitiu desenvolver uma velocidade de 15 km/h. Depois de pouco mais de duas horas de navegação, paramos na margem oeste da Ilha da Guarida, próximo à casa de um ribeirinho. A viagem não apresentara, até então, nenhum fato relevante, nenhum golfinho, apenas um Tucanuçú sobrevoando a copa das árvores e o som dos pássaros saudando a alvorada. Para quebrar a monotonia e abrandar a saudade dos pampas passei a declamar, para mim mesmo, as poesias do augusto poeta do Rio Grande, Jaime Caetano Braum (Galo de Rinha, Amargo, Galpão de Estância, Quero-Quero, Negrinho do Pastoreio e Adaga).
- Segunda Parada
A Ilha da Guarida, em comparação com as fotografias do Google Earth, havia estendido um pouco sua extremidade de jusante e ao contorná-la nos deparamos diretamente com a entrada do furo Aramanduba. A meio curso do furo, por volta das 10h, paramos numa bela praia de areias muito brancas. Segundo meus cálculos, estávamos apenas há uns 6 Km do Flutuante de destino. Caminhei ao longo da praia procurando relaxar a musculatura e tirar algumas fotos daquela natureza pujante.
- Flutuante Oderley
Chegamos ao flutuante do Orlaney que leva o nome do filho Oderley, que morrera afogado há algum tempo. Fomos recebidos com a costumeira cortesia e, em seguida, convidados para degustar um saboroso peixe liso (peixe de couro). Após o almoço, tomamos as medidas de praxe e montamos a barraca no flutuante. A montagem em terra iria nos atrasar na saída. O Orlaney estava envolvido na colocação do forro do flutuante, buscando solucionar o problema do calor provocado pelo telhado de zinco e os mosquitos que infestam a região (carapanãs, miruins e piuns).
- Canoagem
Por volta das 17h, o Romeu iniciou as aulas de canoagem com o Orlaney e filhos. Foi um acontecimento único para aquelas crianças ilhadas em um flutuante nos confins da Amazônia. Novamente ficamos impressionados com a destreza daquelas criaturinhas ‘anfíbias’. O equilíbrio e a facilidade com que aprendem a manejar o remo duplo do caiaque são impressionantes.
- Heróis Anônimos
É estranho verificar que estas pessoas, que vivem em condições tão adversas nos confins da floresta, achem nossa aventura um desafio de titãs. Heróis anônimos, titãs da terra das águas são eles que, apesar de enfrentar todos os rigores de uma natureza hostil, não se dobram, não esmorecem. As políticas públicas, tão benevolentes com a população indígena, subsidiadas por capitais estrangeiros, não os atinge. Sobrevivem graças à sua estirpe heróica e viril e sua capacidade de trabalhar em regime de mutirões dentro da mais legítima convivência cristã. Em conjunto, irmanados pela mesma determinação de seus antepassados enfrentam todo tipo de adversidade imposta pela selva e pelas águas. Queremos deixar, aqui, registrado nosso preito de admiração e respeito à população ribeirinha do Solimões que apesar de possuir tão poucos bens nos apóiam quando aportamos em suas pequenas aldeias numa prova irrefutável do espírito cristão que os anima.
- Luz Elétrica
O flutuante possui um pequeno gerador a gás que funciona do entardecer até o final da novela preferida da dona da casa e de seus filhos. Jantamos, desta vez um tambaqui, e depois de assistir o jornal nos recolhemos, pois pretendíamos sair antes do alvorecer.
- Largada para a Fonte Boa
Não foi uma noite repousante. Os mosquitos zumbiam do lado de fora da barraca sem nos incomodar, em compensação, os holofotes dos ‘motores’ que passavam nos focaram a noite inteira. Parece que os vigias dessas embarcações estavam mais preocupados em vislumbrar as intimidades dos ribeirinhos do que se precaver de embarcações ou troncos que venham em rota de colisão.
Partimos às 5h15min do dia 19 de dezembro e, sem muita dificuldade, apesar das nuvens que bloqueavam a luz das estrelas e da lua que nascera há pouco mais de 2 horas, conseguimos achar a entrada do furo Tarara. O Tarara é tortuoso e lento e levamos mais de 2 horas para percorrê-lo. O ritmo que imprimíamos era cadenciado, pois tínhamos plena consciência de que os quase 70 Km que nos separavam de Fonte Boa exigiriam muito de nossas forças.
- Primeira Parada
A primeira parada às 7h30min, na confluência do Tarará com o Solimões, foi rápida em virtude da ofensiva dos carapanãs. Só cessaram o ataque quando fiz uso do mal-cheiroso sabonete de alcatrão doado pelo amigo Oscar Luis.
- Alterando a Rota
A partir desse ponto, o rio inflete para o sul numa grande alça. O amigo Antonio Carlos, em Jutaí, havia nos aconselhado a manter a margem direita para evitar erros de percurso. Seguir a orientação facilitaria a navegação em virtude das ilhas existentes na ponta sul da península, mas, em compensação, aumentariam o percurso em aproximadamente 7 km, um luxo que eu não estava em condições de negociar. As pequenas ilhas, com vegetação, eram representadas, bastante desatualizadas, pelo mapa do Google Earth como enormes bancos de areia.
- Segunda Parada
Avistamos a primeira ilha próxima à ponta, na margem esquerda do rio e aportamos numa magnífica e extensa praia. Estiquei as pernas fazendo uma boa caminhada e tirando algumas fotos dos enormes troncos arrastados para aqueles bancos na época das cheias numa fantástica demonstração de força.
- Chuva Amazônica
Partimos com chuva e decidi, mesmo assim, manter a rota alternativa, para ganhar tempo. Diminuímos a distância entre os caiaques e me aproximei das margens das ilhas por causa da baixa visibilidade. Adaptei novamente o percurso, buscando uma ilha que me permitisse continuar comparando a fotografia aérea com o terreno, embora isso fizesse aumentar um pouco o percurso.
- Dinâmica da Natureza
Era impressionante verificar que os enormes bancos de areia reproduzidos nas fotos haviam se transformado em ilhas de vegetação luxuriante. Precisei viajar no tempo para poder comparar a foto com o terreno. A predominância de imbaúbas nessas ilhas era a prova de que eu precisava de sua formação recente. As ilhas haviam, também, estendido significativamente suas porções terrestres à jusante da correnteza e com muita imaginação conseguimos, sem maiores problemas, chegar ao furo Cajaraí.
- Frigorífico Pescador
No extremo norte do Cajaraí ancoramos no Frigorífico Pescador. Imediatamente procuramos o administrador senhor Sabá Franco, indicado pelo amigo Álvaro Cabral, de Tonantins, como um contato importante em Fonte Boa. O Romeu navegou com uma das funcionárias do frigorífico pelo Furo Cajaraí e depois fomos almoçar um tucunaré cortesmente oferecido pelo sr Sabá. Sabá fez um contato, a meu pedido, com a dona do Hotel Eliana que assegurou um razoável desconto na diária.
- Polícia Militar
Fizemos, como de praxe, contato com a Polícia Militar para levar nosso material até o hotel e tivemos uma desagradável surpresa ao chegar ao nosso destino. O carro era um táxi que cobrou 15 reais pela corrida.
- Rádio Cabloca FM
Depois do banho, saímos para tomar um sorvete e procurar a rádio da cidade onde concedemos uma prévia da entrevista agendada para as doze horas do dia seguinte. Logo após o Romeu foi estabelecer alguns contatos telefônicos e eu fui até a única Lan House da cidade. Iniciei o download dos arquivos e concomitantemente conversei com minhas filhas Vanessa e Danielle e os amigos Araújo e Rosangela quando sobreveio um black-out. Fui, então, para o hotel arrumar meus pertences e me preparar para o dia seguinte.
- Novo Black-Out
Acordamos ainda com falta de luz, redigi o artigo enquanto aguardava a volta da energia e o Romeu foi até o frigorífico dar aulas de canoagem para o filho do Sabá, o menino João. Deixei o computador da Lan House reservado, baixando as fotos, e às 11h45min fui até a Rádio Cabocla FM. Novamente a ‘comunicação’ amazônica estava presente. Fomos informados que aquele horário era evangélico e que só à uma hora da tarde seria possível. Fiz os contatos necessários e deixei um aviso para o Romeu no hotel e voltei para a lan house. Como passei o dia inteiro envolvido com a atualização dos artigos e downloads das fotos, o Romeu fez uma bela entrevista na Rádio local que durou mais de uma hora. Por volta das 17h fui até o Hotel Eliana para almoçar. Embora tenha permanecido sentado o dia todo, estou cansado, pois esqueci de me alimentar até agora. A refeição foi ótima, pirarucu com arroz e feijão.
- Tour em Fonte Boa
Contratei um moto-táxi e saímos para fotografar a cidade e arredores. A cidade é nova, sua arquitetura histórica foi toda perdida, pois na década de 70 toda a parte antiga foi arrasada pelo Solimões. Às dez horas me dirigi à casa do professor Humberto Ferreira Lisboa, autor do livro ‘Fonte Boa – chão de heróis e fanáticos’ que concedeu uma entrevista bastante interessante. Discorremos sobre diversos assuntos relativos à história e geografia da região e, em seguida, dirigi-me à lan house.
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