Por Hiram Reis e Silva (Coari, AM - 07 de janeiro de 2009)
- 31 de dezembro de 2008
O almoço do dia 31 de dezembro, chegada em Tefé, foi por conta do César: um escabeche de pirarucu, fruto do manejo sustentável. Após a refeição, fomos conhecer as instalações do Instituto Mamirauá. Ficamos impressionados em relação ao tratamento paisagístico, à parte arquitetônica e aos equipamentos que certamente justificam seu reconhecimento, junto com o corpo de pesquisadores de projeção internacional, como centro de excelência em pesquisas relacionadas ao meio ambiente e à ecologia animal.
A passagem do ano foi às margens do lago Tefé, em um lugar conhecido como ‘Muralha’, com a apresentação de bandas e queima de fogos de artifício. Encontramos apenas um conhecido na multidão, o mestre Jonas - aquele dos peixes ornamentais - que nos convidou para o almoço na sua casa.
- 01 de janeiro de 2009
De manhã digitei os textos que havia redigido desde o Aranapu e, depois, chamamos o Manoel, zelador do flutuante Cauaçu, que nas horas de folga é moto-táxi, para nos levar até o Jonas. Após o almoço, retornamos ao Hotel de Trânsito dos Oficias e imediatamente após nossa chegada, o César e sua simpática esposa apareceram e nos convidaram para um passeio pela cidade e arredores. É impressionante observar o dinamismo e a competência deste jovem empreendedor. Mamirauá está de parabéns por contar nos seus quadros com um profissional deste quilate e capacidade de trabalho.
- 02 de janeiro de 2009
Concedemos, pela manhã, uma entrevista muito bem conduzida na rádio 101 FM. Logo após a entrevista, atendendo determinação do Major Cardoso, o sargento Plínio nos aguardava nas instalações da rádio, hipotecando total apoio por parte da 16ª Brigada de Infantaria de Selva, comandada pelo General de Brigada Racine Bezerra Lima Filho. Consegui então acesso ao computador do ensino a distância do Colégio Militar de Manaus e a isenção total das despesas com o Hotel de Trânsito.
À tarde, concedemos uma entrevista na Rádio Alternativa. O César já aguardava na porta para nos levar para um passeio no lago. O Walter BuonFino, que conhecêramos em Mamirauá, foi junto. O passeio foi fantástico; visitamos as praias de areias imaculadas de Nogueira e assistimos ao pôr-do-sol sobre o Lago Tefé e o documentamos, o que jamais iremos esquecer. O Walter, profissional da fotografia, dava dicas de como obter melhores fotos.
Fomos convidados pelo Walter para conhecer os amigos que o estavam hospedando: a Betina, conhecida como holandesa, e seu esposo. Não me senti muito à vontade ao saber que ambos haviam militado nas hostes do CIMI (Conselho Indigenista Missionário), que tantos malefícios têm promovido em relação à soberania brasileira na região amazônica. Voltei cedo ao Hotel de Trânsito para continuar com o upload dos arquivos, que se arrastou madrugada adentro.
- Largada para Caiambé
O César, mais uma vez, com sua pontualidade e cordialidade chegou às 6h horas para nos levar até o porto. Despedimo-nos do querido amigo de Tefé e partimos para nossa jornada às 6h45min. Depois de duas paradas breves, estacionamos em um flutuante de Caiambé e saí em busca de abrigo.
- Hospedagem VIP
A senhora Valdecia dos Santos Silva, mais conhecida como Beti, secretária da Escola Estadual Amélia Lima, alojou-nos na sala de aula número 01, com ar condicionado, e nos franqueou o acesso às instalações sanitárias e cozinha da escola. Foi um tratamento VIP que não imaginávamos encontrar em um local tão ermo. O governo do estado do Amazonas entregou a escola em agosto de 2008, totalmente reformada e ampliada. O ar-condicionado das salas, longe de ser um luxo numa região destas, é uma necessidade. À tarde, saí pra registrar algumas imagens, subindo inclusive na caixa d’água da comunidade, enquanto o Romeu se envolvia com o remo e com a gurizada.
- Largada para Catuá (alterando para Lago Ipixúna)
Partimos às 6h30min, já programando estender nossa jornada de maneira que pudéssemos abreviar em um dia o deslocamento até Coari. Eu estava resolvido a passar meu aniversário em Coari.
- Jutica
Nossa primeira parada foi determinada, novamente, pelos amigos botos tucuxis, que cortaram a frente do caiaque apontando para a comunidade. Sem pestanejar, chamei o Romeu, que estava um pouco à frente, e embiquei para Jutica. Conheci o escritor e latifundiário, dono daquelas terras, Jones Cunha, que nos ofereceu um café com sucos, tapioca e pupunha além de me presentear com seu livro ‘Jutica, o brilho da terra’. Homem de visão empresarial, patriota e amante da natureza, mantém suas terras intocadas, onde os ribeirinhos se dedicam ao extrativismo. Montou uma agradável casa de hóspedes, que pretende destinar ao ecoturismo. O senhor Jones é mais um destes amazonenses que não interessam à mídia sensacionalista, a qual procura apenas mostrar aqueles que agridem a floresta.
- Santa Sofia
Alongando nosso trajeto, paramos no flutuante do ‘seu’ Plínio, conhecido como Bom Fim. Filho de Paraibano, migrou com sua família do Juruá por pressão de seringalistas. Aposentado, com os filhos criados e morando em Manaus, resolveu procurar sossego no pequeno vilarejo às margens do Lago Catuá, junto com sua amável esposa Conceição que é hoje a presidente da comunidade de Santa Sofia. Um contador de ‘causos’ nato, brindou-nos com uma série interminável de experiências vividas por ele e outras tantas por conhecidos seus, sempre colocando uma pitada de humor nos seus relatos. Já nos preparávamos para partir quando nos convidou pra almoçar e, como pretendíamos alongar nosso percurso, achamos que seria bom reforçar as energias antes de continuar. Lá pelas 14h nos despedimos e seguimos destino rumo à Comunidade Esperança - a comunidade dos 162 degraus.
- Esperança e os 162 degraus
Apesar de o seu Plínio afirmar que só encontraríamos Esperança depois de uma hora de remo, lá aportamos em 30 minutos. Encontramos o senhor Edson, como havia sugerido Bom Fim, que nos assegurou que o Flutuante cor-de-laranja do Jorge, à boca do lago Ipixúna, ficava a igual distância de Esperança a Santa Sofia. O mapa mostrava uma distância três vezes superior, mas subir aqueles 162 degraus até a escolinha, pelo menos duas vezes, carregando o material do caiaque, motivaram-nos a prosseguir viagem. É impressionante como os parâmetros de tempo e espaço nessa região são erroneamente dimensionados pelos ribeirinhos, inclusive os mais experientes.
- Lago Ipixúna
Chegamos ao flutuante do Jorge por volta das 16h30min horas e solicitamos que ele nos rebocasse até a comunidade Divino Espírito Santo no interior do lago. O administrador rural, inicialmente, apresentou-nos um local para acampar, sem quaisquer condições de higiene. Depois da intervenção de seu irmão, um ‘leigo’ coordenador da pastoral, a chave do quarto dos professores da escolinha ‘milagrosamente’ apareceu. A única vantagem do ambiente em relação ao anterior era a privacidade.
O senhor João, de quem compramos um refrigerante, convidou-nos para jantar na sua residência. Ofereceu-nos um jantar à base de peixes e nos informou que em Laranjal teríamos abrigo no Centro Cívico e que lá procurássemos o senhor Everaldo.
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