Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)
Hiram Reis e Silva (*)
- Mergulhando nas entranhas do Mamirauá
O Mamirauá é um poço de tranqüilidade, margens intocadas, a vegetação não é violentada pelas águas como a do Solimões. Passamos pela Pousada Uacari e chegamos ao flutuante onde fomos recebidos pelo senhor Ivo, que nos ofereceu um saboroso almoço/janta que havia sido preparado pelas pesquisadoras Juliane e Joana, as quais já teriam seguido destino a Tefé.
- Entusiastas Pesquisadoras
Fomos surpreendidos, ao entardecer, com o retorno da Juliane e da Joana e mantivemos um prazeroso contato com ambas. Juliane, veterinária gaúcha de Porto Alegre e pesquisadora de mamíferos aquáticos amazônicos (boto); Joana, carioca, da gema, trabalha com a ecologia de vertebrados terrestres, tendo como foco as ocas. Gravamos uma pequena entrevista com ambas contando suas histórias de vida e o objeto de sua pesquisa. Ambas demonstraram uma paixão pelo que fazem e a determinação com que enfrentam as vicissitudes do ambiente por vezes hostil.
- Primeira Manhã em Mamirauá (28 dez 2008)
Acordei cedo para tirar umas fotos do nascer do sol em Mamirauá. O alvorecer é fantástico, quase tão lindo como o do lago Guaíba, em Porto Alegre. Despedimo-nos das amigas pesquisadoras e saí de caíque para reconhecer e fotografar a área. A vegetação da várzea é formidável, as espécies evoluíram e se adaptaram às condições especiais das inundações sazonais, sobrevivendo apenas as mais fortes, o que explica ser sua biodiversidade menor do que a da vegetação de terra firme. As raízes, em especial, chamam a atenção dos mais sensíveis, parecem ter sido formadas por mãos celestiais.
Conhecemos, no Flutuante ‘Boto Vermelho’ do INPA, a pesquisadora carioca Sani, que trabalha sob a supervisão da nossa querida amiga Vera Silva, considerada referência mundial como pesquisadora de mamíferos aquáticos do planeta. Alegre, de bem com a vida, a Sani está perfeitamente integrada à região e ao seu trabalho. À tarde, ela veio nos visitar no Flutuante e saiu para passear com o caíaque duplo só voltando ao entardecer.
- Senhor Joaquim Martins (29 dez 2008)
O líder e patriarca da Comunidade da Boca do Mamirauá, senhor Joaquim, como havia prometido, veio nos visitar na manhã de segunda-feira, acompanhado do ‘Lula’, um de seus 38 netos. A chuva que começara à noite só parou por volta das 10h. O Senhor Joaquim ficou proseando e contando suas histórias. É impressionante o vigor físico, a lucidez deste ribeirinho que é um dos esteios da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Quando a chuva diminuiu, acompanhei-o na pescaria e sua destreza em arpoar e depois na técnica usada para pescar o tambaqui usando o ‘enganador’ e a ‘arati’ como iscas, justificam a fama de grande pescador que tem. Retornamos ao Flutuante e ele nos presenteou com o tambaqui que foi assado pelo zelador Ivo e saboreado no almoço.
- Peixes ornamentais
À tarde, chegou com sua equipe, o Jonas, especialista no manejo de peixes ornamentais. Participamos da captura de acarás à noite, numa preparação para a palestra que o Jonas iria ministrar na pousada e que seria concluída no laboratório do nosso Flutuante. À noite estava perfeita, embora sem lua, limpa e estrelada, prenunciando um bom tempo que não veio. No deslocamento da ‘voadeira’, diversas sardinhas, atraídas pela lanterna que o Jonas portava na testa, caíram dentro da nossa embarcação. No retorno, algumas delas serviram de repasto para o grande poraquê que habita um enorme aquário do laboratório.
- Efeitos da Chuva
Na madrugada de 30 de dezembro choveu torrencialmente, o que impediu novas capturas, e o dia raiou com uma precipitação bastante forte. Ajudamos o Ivo a desprender o capim memeca, que descia o rio em grandes ilhas, do flutuante e aproveitamos para ler um pouco e atualizar nossas anotações. O Romeu envolveu-se nas atividades culinárias. O Jonas realizou a palestra na Pousada e depois os turistas vieram até o laboratório do Flutuante. No laboratório, ele relatou que das mais de 300 espécies de peixes levantadas na reserva, menos de 20 são consideradas ornamentais e que destas apenas 3 fazem parte do projeto de manejo, que são o Acará-Bandeira, o Acaraçú e o Acara-Boari (mesonauta). Na oportunidade, um fotógrafo italiano chamado Valter insistiu que remássemos juntos para nos fotografar.
À tarde, fomos percorrer algumas trilhas ao longo dos canos do Mamirauá. As aves estavam exaltadas com a pesca fácil. A chuva aumenta a correnteza do Mamirauá e demais cursos, movimentando o lodo do fundo e liberando grande quantidade de gases. Toda a reserva recende a enxofre e os peixes são obrigados a subir à superfície em busca de oxigênio, tornando-se presa fácil dos predadores. O espetáculo proporcionado pelas garças, principalmente, é inenarrável. Achei a trilha, indicada pelo Jonas, fotografei as vitórias amazônicas, guaribas e outras raízes exóticas e retornei à base.
O Romeu tentava ensinar o Valter, nosso amigo italiano hospedado na Pousada Uacari, como remar. À noite, preparamos nossos apetrechos para seguir destino a Tefé na manhã de 31.
- Largada para Tefé
Um dos muitos genros de seu Joaquim foi designado para nos deslocar até a Boca do Mamirauá. Seu Joaquim e filhas nos agradavam com a alegria típica dos ribeirinhos. Aproveitamos para comprar alguns artesanatos fabricados pela comunidade e tiramos uma foto diante da Castanha Sapucaia mais famosa do mundo. Sua foto, na época da cheia, com uma pequena embarcação ao lado, ilustra diversas revistas e livros no mundo tudo. Já no lago Tefé, segui as orientações da pesquisadora Juliane e não tivemos problemas em localizar o flutuante do Instituto. O César, mais uma vez, com a atenção e cordialidade que lhe são peculiares, nos acolheu no porto, levou-nos até o clube militar de Tefé onde nos hospedamos, e nos levou após o banho para almoçar.
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