Texto 1:
Sou o Cel Hiram de Freitas Câmara, AMAN62. Um companheiro me solicitou informações sobre o Cel Hiram Reis e Silva, pois como sabia ser seu nome apenas Cel Hiram, imaginou que eu pudesse ser esse fantástico oficial que realiza, atualmente essa extrordinária façanha, fazendo, a remo em canoa, 1300 km no Rio Solimões, vencendo a correnteza do Rio-Mar, chamando a atenção da Brasil e do Mundo para a Soberania do Brasil sobre o território amazônida contido em suas fronteiras. Fiquei vaidoso só com a dúvida do companheiro, pois, infelizmente, não me seria possível intentar tal desafio físico. E fiquei feliz de ver que o esforço desse oficial do Exército começa a despertar o interesse de outros. Eis a minha resposta, que ofereço com muita sinceridade e orgulho, como homenagem ao meu xará, Cel Hiram Reis e Silva.
Estimado amigo................:
Não sou esse Hiram do e-mail. Mas, neste momento, gostaria de ser esse Coronel do Exército Brasileiro. No mínimo, afora todas as suas demais qualidades, por seu extraordinário vigor físico, já um Coronel - é verdade que doze turmas depois da nossa, o que não lhe reduz em nada seu valor. Apenas ajuda a justificar um pouco a nós mesmos, da turma de 62. Justificativa que, em contrapartida, também não reduz, em nada, o orgulho que sinto por esse militar brasileiro. Tenho acompanhado a demonstração de amor ao Brasil desse meu xará. Após intenso treinamento, partiu, com dois outros navegadores fluviais em canoas, sendo um deles, uma jovem. Estão vencendo a correnteza do Solimões, bem mais rude que no treinamento na Lagoa dos Patos, de Tabatinga a Manaus. Hiram Reis e Silva é metódico, disciplinado, obstinado, perseverante. Estudioso e pesquisador da Amazônia, talvez seja, hoje, o mais bem informado brasileiro sobre a integralidade da Amazônia. Creio que haja uma simbologia própria, não sei se proposital, no fato dessa idéia haver nascido no mais afastado dos Estados em relação à Amazônia. O alcance nacional é vitalizado pelo brasileiro que sai de seus pagos para colocar a atenção do Brasil, dos vizinhos e do restante do mundo, sobre a Amazônia. Assim, sua "pequena bandeira" foi organizada no Rio Grande Sul e vivida no Norte do País. O ambiente em que o sonho gestou guarda, também, um simbolismo intuído: na energia de jovens -dos melhores do País-, que estudam no Colégio Militar de Porto Alegre. Foram trabalhos em grupo e individuais, exposições, apresentações, palestras e concursos, os instrumentos que contagiaram o educandário. A preparação foi muito suada. Quem quiser saber como ocorreu, basta visitar o site do Colégio Militar de Porto Alegre. Na mídia nacional, afora a gaúcha, nada se falou sobre a missão voluntária o que certamente se explica pelo custo excessivo do marketing. Mas alegrou-me saber que o Professor e Dr Marcos Coimbra, de quem sou admirador, procurou, por um amigo militar, saber sobre Hiram Reis e Silva. Mas vou descobrindo não ser necessário. E assim, por confusão de nomes, você chegou a mim. Mas assim é quando o universo conspira a favor: sem conhecê-lo pessoalmente, tenho vibrado com ele, a cada remada. Pois o que dele sei é o que tenho lido no site dele e naqueles aos quais sou conduzido. Nascido de semente boa, o assunto vai chegando ao conhecimento dos brasileiros, boca a boca, e-mail a e-mail. É que a realidade do dia a dia da missão, tem concretizado o que ela significa. No silêncio de suas remadas no Solimões, mesmo que não fosse essa a intenção, ele está despertando a atenção de multiplicadores brasileiros e do mundo para o fato de que, ao remar, ele reafirma que cada metro percorrido com a força de seus braços representa o esforço de quantos braços fizeram a Amazônia. E de quantas vidas ficaram na imensidão da Hiléia para legar, a esta geração, o território que recebemos. Uma geração que parece decidida a demonstrar ao mundo um raro exemplo ao inverso daquele de Reis e Silva: o da ingratidão histórica com aqueles civis e militares capazes - de desde a consolidação de suas fronteiras - manter o Brasil a salvo de ambições que não são imaginadas, mas provadas, de nações mais poderosas. Cada gota de suor que corre pelo corpo desse brasileiro raro representa uma gota de sangue daqueles a quem a Pátria Brasileira deve seu território, ampliado além de Tordesilhas, no quadro de moralidade jurídica que lhes foi concedida pela União das Coroas Ibéricas, e confirmada pela lucidez, equilíbrio e maturidade da diplomacia conduzida por um português nascido no Brasil - Alexandre de Gusmão -, no Brasil Colônia, e os Rio Branco, no Brasil Independente. Esse Cáceres da primeira década do século XXI, impulsionou o próprio espírito e levou o próprio corpo ao esforço hercúleo de mais de 1000 kms a remo. Nenhum comando, nenhuma ordem recebeu senão de seu espírito de brasilidade intenso, forjado na Academia Militar das Agulhas Negras, e nas que a antecederam, desde 1811, e desenvolvido e revelado, em seu espírito, no desafio a que se impôs, de ser exemplo a seus jovens alunos. Amigo........., embora eu tenha servido na Amazônia, com o mesmo sentimento, e haver comandado um Colégio Militar, faltar-me-ia, como fato essencial, no mínimo, o vigor físico para ser esse Hiram
Com meu abraço, Hiram (o de Freitas Câmara).
Texto 2:
Prezada Professora Silvana Schuler Pineda,
Com enorme satisfação, envio-lhe esta resposta.
Quando o "índio véio" solta a flecha, já sem a direção de outrora, não sabe bem onde vai atingir. Quando se abre o coração na Internet, é como flecha de "índio véio". Que bom que atingiu terreno bom e fértil, na leitura de vocês. Quando tomei conhecimento daquilo em que esse meu já estimado xará decidira investir seu tempo e sua energia, embarquei junto com ele. Já conhecia os trabalhos de Hiram Reis e Silva - a quem não tenho a satisfação de conhecer pessoalmente - pela Internet, por seus trabalhos sobre a Amazônia, onde servi como Aspirante e 2o. Tenente. Mais tarde, a vida me premiou como um dos coordenadores de um Projeto de Educação a Distância na Amazônia, e por quatro anos, estive muitas vezes ajudando a instalar ou visitando telepostos, ao longo das barrancas de muitos igapós, furos e igarapés de cinco estados da Amazônia. Longe da saga de Hiram Reis, não remava, conduzido em voadeiras. Portanto, eis outro motivo, além de ser xará, que me aproximou do site sobre a Amazônia, que acompanho desde bem antes, e onde li, talvez a mais completa integração de conhecimentos históricos da questão do Pirara. Sempre interpretei a História como base da construção de um futuro viável e muitas vezes lamento que pessoas responsáveis pela vida de muitos, não só desprezam a História - até a de suas vidas - como ajudam a retirar as sólidas camadas sedimentadas ao longo do tempo, para reconstruir sobre uma falsa história ou uma não-história(aqui, minúsculas, mesmo), a vida de uma Nação, como se fosse possível destruir a verdade de seu passado, a base. E mesmo que se não a destruíssem, mas - como coisa de menor importância - a esquecessem, sem essa memória, a estrada a percorrer, sempre plena de obstáculos, será ainda mais difícil, para aqueles que não reconheçam os contornos, já trilhados no passado. Obstáculos e contornos, que, para agravar, quase nunca são físicos. A Filosofia ajuda a entender a Vida - e quanto de Filosofia há em interpretações que penas mais finas poderiam garimpar nesse desafio de Vida de Hiram. A História nos faz evitar erros já cometidos no passado. Ou, como as remadas de Hiram, nos trazem à mente o passado da Amazônia que ele redesperta, e sacode a consciência de tantos sobre como ela se fez como um tesouro conquistado pelo cérebro dos diplomatas do passado e pela audácia dos bandeirantes. Ao entrar no site do Colégio Militar de Porto Alegre para visitá-lo, vocês ainda preparavam a epopéia e Hiram treinava na Lagoa dos Patos, se não me engano. E chamou-me a atenção, o fato de que era a área de História que dava vida ao trabalho dos alunos - sei que outras Cadeiras participaram e participam - mas eram o Clube e era a Cadeira de História que energizavam o espírito dos jovens alunos e, eis, o terceiro ponto de contato. Lembrei-me dos esforços dos mestres de História no Colégio Militar de Fortaleza que eu comandei, no início da década de 90, e como se empenhavam em dar vida a fatos que já haviam sido vida, e refaziam sua energia, abrindo caminho para que os alunos não cometessem erros já passados. Estejam certas, Professoras Silvana e Patrícia, que estes seus alunos e alunas levarão para o resto da vida esta experiência maravilhosa. Do Coronel Hiram Reis, o exemplo espartano, no sentido da entrega por fazer vivo um ideal, arrostando a qualquer sacrifício físico; o de vocês, no viés ateniense, de fazer de uma epopéia uma lição de vida para esta geração de alunos do Colégio Militar de Porto Alegre. O aproveitamento do que escrevi, tão sinceramente, sobre o Coronel Hiram Reis, se for uma contribuição para com este momento tão bonito de vocês todos deste Colégio, só me fará mais feliz, como se vocês estivessem me admitindo a bordo e me honrassem com uma remada.
Com meu apreço e respeito,
Hiram Câmara, Cel Ref Inf
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